segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Adeus a Palmira, coração de gigante...

D. Palmira era a mãe de minha colega do primário (e minha primeira paixão infantil) Olívia. Naqueles idos as mães e os pais dos amigos eram “entidades distantes”, seres que olhávamos sempre de longe, de baixo para cima.

Em 2005, num evento da Academia, André e D. Palmira


Ela um dia me resumiu isso ao lembrar, chorosa, do esposo que a deixara há pouco, na época... Levava eu minha filha ao ombro quando nos encontramos diante de sua casa e ela, brava – falava sempre brava – mandou: “Coloque essa menina no chão para andar”. Diante de minha recusa, dizendo que tinha de aproveitar enquanto ainda aguentava carregá-la, ela me deu razão e em seguida falou brava do marido que morrera e a deixara para trás, viúva...  Palmira não o perdoava por isso: o velho Thales Gottschalk Fausto, que lhe dera doze filhos, era realmente o grande amor de sua vida...

Thales, Palmira e aqueles que ela chamava de "Os 12 Trabalhos"...

Falei dos doze filhos... Sempre brincava que ela não se lembrava de todos, era humanamente impossível - provocava - para vê-la lembrar-se de todos...

Humanamente impossível, escrevi? Não para ela! Palmira os tinha todos, de igual monta, de igual forma, lá dentro daquele coração que, amorosa, lembrava de cada instante vivido com eles, desde o parto! De todos eles falava com o mesmo carinho, a mesma ênfase. De todos tinha sempre um caso, que nunca esquecia os detalhes... Mesmo quando os detalhes a fizessem novamente parecer a mãe-coruja que zela por seus pintainhos, ou seja: ficar brava!

Brava “Tia Palmira” que um dia foi ser minha professora, lá nos idos de 1984. Fiz-lhe então uma redação que ela, encantada, mandou datilografarem e fez cópias, que distribuiu! Foi algo para mim inédito ter tal incentivo vindo de um mestre, uma “mãe de amigo”, gente que era tão distante... E mais: quando me formei na Faculdade e voltei a morar na terrinha, com a Tia Palmira ao lado na fundação da Academia de Letras, companheira ali de primeira hora, eis que do fundo do baú de lembranças ela nos aparece com um papel... Era aquela velha redação de quase vinte anos antes! E me disse: “Você viveu aquilo que escreveu, meu filho”...

Um dia estávamos em sua casa quando ela nos mostra algumas velhas fotografias. Então, diante da imagem de uma turma da Escola Normal, a imensa maioria de garotas, ela me pergunta: “Qual dessas você acha mais bonita?”. Olhei, olhei... Então falei: “Você pode não achar a mais bonita, mas a que faz mais meu estilo de beleza é essa aqui” – e apontei com o dedo uma das meninas na foto. Não tive tempo de saber quem era: levei um baita tapa no braço! “Moleque, tá querendo me puxar o saco, é?”. A menina que apontara era... a Brava Tia Palmira! A “beleza brejeira” que se destacava no meio de tantas... Não adiantou jurar que não sabia ser ela... E rimos a valer...
Uma beleza diferente, que me valeu um tapa...


Bem... Falamos da Academia. Falamos de livros, ela achava tempo para os ler, para transmitir a todos a paixão pela leitura, pela transmissão do pensamento, do saber. Levaram-na um dia ao Chile e ela, com propriedade, visitou a casa do Nobel de Literatura Pablo Neruda, para ali tirar uma fotografia que registrou: “Descendo as escaleras do ninho de amor de Neruda e Matilda”... Apenas ela poderia fazê-lo: Palmira foi um imenso ninho de amor! Brava, mas de amor!
Nas "escaleras" de Neruda e Matilda...


Brava Palmira, minha “tia” querida, que pude ser próximo já tão tarde... Que me pegou no colo e me deitou num cantinho do coração que eu, eu tinha medo de não caber... e cabia! E fomos pro quintal, quebrar coquinhos e jogar conversa fora...

Jurei que ia rir de nossas lembranças. Que iria evocá-las para não fazer um texto triste... Mas agora cai a ficha de que esse coração gigante não estará mais aqui para nos acalentar, com o jeito bravo de quem, com bravura e braveza, encarou a vida e fez da vida uma lição imensa de que é possível ser mais que mãe, professora, amiga... Que é preciso lutar pelo coletivo, NO coletivo; ser singular como todos somos, mas viver sempre no plural...

Meus doze irmãos queridos: Cocão, Chris, Cláudia, Ângela, Hilda, Olívia, Tiba, Baía, Gal, Telva, Pat e Zé... O mundo está sem Palmirô! O mundo ficou tão vazio! Que será desse mundo, então? Como caberemos, de novo, num coração de mãe?

Parece que ela nos deu, sempre, a resposta... “Coloque a criança no chão, para andar com seus pés”...

Vamos andar sobre nossos pés! Palmira nos ensinou o caminho, como mãe, professora e amiga... Que abracemos todos no coração, pois quanto mais gente tivermos ali, mais amor virá! Amemos os livros. Escrevamos nossas memórias. Ajudemos os mais necessitados. Sejamos... Bravos!


Brava Palmira, bravo! Você, realmente, merece ser – e é... IMORTAL!

sábado, 20 de janeiro de 2018

DE LAVADA! A LAVAGEM DA ESQUINA 2018

Quis o destino que este cronista tomasse uma queda depois de levar uma finta de um miserável besouro, que está a destruir a barriguda da Praça da Barriguda e, com trauma do joelho e muito analgésico, tive que abrir mão de seguir o cortejo da 31ª Lavagem da Esquina do Padre, neste 2018 que mal começa... Mas, mesmo com dor no joelho e tudo, FOMOS, VIMOS E... VENCEMOS! 

QUE LAVADA, A LAVAGEM!

Ao contrário de anos anteriores, onde o ponto alto seria uma das atrações, este ano a coisa evoluiu tanto que não dava para mensurar a quantidade de coisas para ver, de tanta gente que foi... Mascarada, à paisana, disfarçada, escancarada, enrustida, gente, gente adoidado, gente pra dar com pau! Foi gente demais, menino!!!

Uma vista do "camarote" de Germano: minha Joanna por aí...


O que dizer da Festa? Onde ela começou, mesmo? Ela começou em Salvador, onde minha filhota Joanna ( que como o pai já faz parte da “velha guarda” que está mais de vinte anos seguindo o cortejo) largou tudo para se juntar às amigas e desfilar. Começou em Jequié, onde o velho Mirabeau (pode pronunciar Mirabê-au, senão “acaba o carnaval”!) esqueceu o reumatismo para seguir tudo da Esquina de Bu. Começou em São Paulo, de onde veio o rapaz fantasiado de “O Corvo” (“The Crow”, aquele do filme do finado Brandon Lee, que os mais antigos como eu conhecem o pai, o Bruce Lee) e declarou-se caetiteense tão legítimo que já rói pequi. Começou lá em Beagá, de onde retornou o confrade Stefanelli para registrar tudo com sua câmera de – palavrão – entomologista. Começou em Rio de Contas, de onde veio uma bandinha “furiosa”, que logo vestiu a camisa oficial da festa. Começou no mundo inteiro, e o mundo inteiro descambou pra Feira Velha!

E Jesus derrota os malvados vikings...

Jesus Cristo, em pessoa, lutava espada contra os vikings, e era louvado por “freiros” e freiras pecaminos@s. Minha nossa, a Medusa era difícil de não olhar! Não sou mais jurado das fantasias, mas estou aqui torcendo: ganha, Medusa! Ganha... Mas eram tantas as maravilhosas fantasias, que só quem tem os olhos de pedra para não se deleitar! Cada um merece ser ganhador! A morte (tinha, pelo que vi, pelo menos duas, cada qual mais bonita – se é que podemos falar isso da Morte!), os velhinhos de novo (estavam já no ano passado), os Rosinhas me sujando (ou seria limpando?) de cor-de-rosa, os marombados, os caretas legítimas...
Só na LEP a gente pode olhar a Medusa!


Passei na rua da Associação dos Moradores da Feira Velha, a Amofeve da qual sou orgulhoso sócio, e topo com o “menino de ouro” da rua, da Amofeve e da Feira Velha – o Daniel Santana. Quisera que o mundo todo fosse como o Dani, o maior coração da Terra! Quem dera tantos egos inflados e inflamados tivessem só uma nesguinha de sua grande humildade e seriedade, Dan-dan! Mas, como não é assim, a gente segue em frente, só mais um na imensa multidão que em 2018 bateu todos os recordes!

No privilégio do "Camarote Gumes"!

Paro no “Camarote do Germano”, o Gumes que ficou na Feira Velha, bem no miolo da muvuca. Posição privilegiada, onde vemos tudo e quase nada... É muita coisa rolando, é muita gente, é gente demais – e acho que já falei isso... Mas é que foi mesmo gente de dar com pau – e já estou a me repetir... Dali tiro fotos e fazemos fofoca – para os que não sabem, fofocamos de coisas dos últimos cem anos em Caetité... he, he...

Fui para a Praça da Catedral e lá, meu Deus! Era muita gente, era mais gente ainda... A meninada, a velharada (como meu pai de 87 aninhos, que perdeu a LEP do ano passado, e neste 2018 se postara na sua antiga morada, hoje a Escolinha Grão de Areia, e depois me registrou, assombrado: “Era muita gente, meu filho!”). Os vendedores deram passagem, e mesmo assim... Era como se a rua ainda tivesse ficado pequena, tamanha a multidão...

Gente, gente e mais gente... Engarrafou!

Resolvi ir até o Bar do Gordo, e o beco do Bar do Gordo logo ficou, literalmente, engarrafado. Bom pro Gordo, nosso querido Valdir, que ficou sem garrafas: vendeu tudo! Crise? Qual crise? Dali, sem poder mais voltar de tanta gente que seguia o cortejo, vimos passar as autoridades que fazem nossa cidade ser o que é: o Prefeito Aldo, o Juiz Dr. Eduardo, o Presidente da Academia Luiz Benevides, nem prefeito nem juiz nem imortal: foliões na folia maravilhosa que invadiu Caetité e os corações.
Um carnaval verdadeiramente participativo: o Prefeito é o folião...

Faltou falar deles: os “começadores” de tudo, os “papas da folia”. Vamos terminar com eles, então... Nelsim de Nelsão, como sempre nervoso, mas este ano mais relax um pouco, até encontrou um tempinho para papear conosco, depois de ter vindo em pessoa (e na pessoa da filha) nos presentear com a camiseta da Lavagem. Gilson Bolivar, com um certo Leleto Forasteiro ao lado, posou naquela que será a foto mais emblemática de como levamos a LEP a sério... heee... E Tairone... Esse só vi de longe, vermelho como um pimentão, o danado do Tai... “Meninos, eu vi!”: Vocês colocaram o mundo dentro de Caetité!

As melhores CARETAS da LEP 2018!

Aos três “cabeções”: Nelson, Gilson e Tairone, nosso obrigado. Trinta e um anos de Lavada, e hoje podemos dizer que vocês criaram um novo tipo de trio, nesta Bahia Velha de Meu Deus e de Todos os Santos! 

São o trio que irradia, que eletriza o carnaval e até o trio elétrico, mas sobretudo que não permitem que o Carnaval em Caetité perca jamais aquilo que faz essa festa ser o que é, como disse minha Joanna e o Nelson abraçou: 

UMA FESTA DE RAIZ!


Valeu, valeu demais! E mais... Só em nosso álbum do Face...