A Rádio Educadora Santana de Caetité completa 36 anos de
existência, parte de um legado que deixou na cidade o bispo diocesano D. Eliseu
Maria Gomes de Oliveira – um nome que não foi ainda devidamente reconhecido.
Ele nunca enxergou uma Caetité pequena...
É inegável a importância sócio-cultural-econômica, e também
política, que hoje tem a Rádio Educadora Santana de Caetité. Quando de sua
inauguração, em 1981, porém, a cidade ainda vivia uma letargia que a vitimara
desde a instalação da ditadura militar, em 1964. D. Eliseu, contudo, provocaria
uma radical transformação neste ambiente: foram dele, diretamente dele, as
principais conquistas daquele período, de tal forma que podemos afirmar que,
como bispo, foi o melhor prefeito de Caetité até então.
Senão, vejamos: Anísio Teixeira, ainda nos anos 1960,
conseguira fazer aprovar uma lei criando a Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Caetité; mais de vinte anos ela passou sem que jamais isto se
tornasse realidade – até que, junto ao padre Raimundo dos Anjos, a Faculdade começou
suas atividades, se tornando o núcleo que hoje é o Campus VI da Uneb.
Ao saber do programa do governo Roberto Santos em instalar Centros
Sociais Urbanos nas cidades cujas sedes tinham um número superior a trinta (ou
seria quarenta?) mil habitantes, D. Eliseu inscreveu Caetité no programa e, por
“lapso”, colocou nossa população rural junto à urbana. E a cidade tem até hoje
o Centro Social...
Caetité, perseguida e esquecida pela ditadura, a quase mil
quilômetros da capital, mergulhava por vezes num paradeiro que se quebrava com as
ações do bispo, nem sempre aceitas, nem sempre compreendidas (deixaremos de
lembrar aqui suas ações sociais e religiosas, não menos importantes – como as
visitas pastorais, as comunidades eclesiais de base, a comissão pastoral da
terra, etc. – por fugir ao objetivo deste artigo). Pois vamos recordar como as
ruas se enchiam em momentos tal como a recepção ao Núncio Apostólico, representante do Papa,
ainda durante a gestão do prefeito Janir Aguiar, onde uma faixa era lapidar de
como o bispo via uma Caetité maior: a rua Pernambuco, ali, era o “bairro
Pernambuco”...
A vinda de membros da Rádio Aparecida para Caetité foi outro
desses momentos em que toda a cidade se agitava para assistir às apresentações
num palanque improvisado na carroceria de caminhão, ao lado da igreja matriz. Com
direito a animado concurso de calouros e tudo. Talvez ali, quem sabe, tenha
surgido a ideia de fazer na cidade uma emissora de rádio também?
Caetité já tinha, por iniciativa do Zé Walmir de Castro
Abrantes, o serviço de “divulgadora”: alto-falantes instalados nas principais
esquinas, com seu locutor nato: Professor Hélio Negreiros. Dono de uma voz
talhada para os microfones, o cearense Hélio Negreiros era um ex-seminarista
que permanecia ligado à Igreja, e seria ele o principal nome da nova emissora.
Abertas subvenções para levantar o capital necessário,
pessoas de toda a Caetité: não apenas a urbana, mas sobretudo a rural, tornavam-se
“sócios” da futura rádio. Até hoje, por extrema burrice e incompetência dos
governantes federais, criar uma emissora é um processo legal e burocrático
dificílimo. Mas isto não foi obstáculo intransponível para o intimorato D.
Eliseu, que conseguiu enfim autorização para ter sua rádio inaugurada, já na
gestão do prefeito Nivaldo Oliveira.
Instalada no prédio do Cine Pax, então já sofrendo a
decadência que as salas de projeção passaram a partir do fim dos anos 1970 em
todo o país, em prédio pertencente ao Seminário São José, o lugar ganhava agora
uma nova dimensão: o espaço infinito das ondas do rádio.
Em toda zona rural, nas cidades vizinhas, onde quer que houvesse
um aparelho receptor, a voz de seus locutores se fazia chegar, informando,
entretendo, debatendo, transmitindo eventos, fazendo Caetité vibrar numa nova frequência.
Muitos foram os nomes que ali tiveram seu início de carreira.
Mesmo a concorrência das rádios FM que surgiram ao longo dos anos não diminuiu
sua importância. Ainda hoje, num raio de centenas de quilômetros, é a única AM
da região...
Caetité mudou demais, em 36 anos. Muitas vezes, perde um
pouco de sua memória. Mas o legado de homens que por ela lutaram, como D.
Eliseu Maria Gomes de Oliveira, vence o tempo e o esquecimento.
Parabéns à Educadora. Você é o exemplo vivo de que “nas
terras sagradas do sertão” a obra rende e dá frutos quando, sobretudo,
acredita no bem maior de nossa Caetité.
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